segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Como é que se diz eu te amo

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Esse final de semana resolvi encarar um medo.
Parece bobagem, mas eu tenho uma ligação tão profunda com as músicas da minha vida – desde as que eu cultivei quando criança até as que estou plantando agora – que elas sempre estão relacionadas com alguma coisa, com um lugar ou com um alguém. Então elas são ferramentas para mim. Às vezes do bem e às vezes do mal.
É... as músicas da minha vida têm o poder de me fazer bem e o poder de me fazer mal. Eu uso essas ferramentas quando quero me aproximar de algo, só que muitas vezes elas aparecem do nada e me levam aonde eu não quero ir. Elas me usam!
Eu divago sobre isso agora, essa relação com as músicas - pois só agora essa relação me é bem clara. 
Há uns dois anos, conversando sobre isso, alguém me observando disse sabiamente que eu deixava as músicas guiarem e modificarem meu estado de espírito. É uma observação bem simples, mas fez uma diferença e tanto. Presto mais atenção nisso e não caio mais nesta armadilha.
Ainda assim, como eu disse, as músicas também me usam, e tem dias que não dá para evitar. No último sábado aconteceu esse abuso de mim.
Eu tenho essa mania de dedicar muitas horas do meu final de semana para deitar e fazer nada, nem dormir, só ouvir música no escuro e sentir. Primeiro eu escolho onde quero ir e depois escolho, de acordo com o lugar, a trilha sonora.
Esses dias escolhi estar no apartamento que morei em San Diego e coloquei o “Films About Ghosts” do Counting Crows. Era o álbum que eu escutava sem parar na época. Foi tão singular que eu até consegui sentir o cheiro do ar de San Diego, aquele ar de praia que eu sentia da janela do apartamento. Eu me senti tão lá, que abri a janela do meu quarto aqui em Curitiba e ri alto sozinha por me dar conta, mais uma vez, que posso fazer tudo, ser tudo, ir aonde quero, quando quero. Que riqueza: a música como forma de liberdade!
Fiquei vagando ali pela Califórnia por uma hora e pouco até o CD acabar e eu escolher para qual outro lugar queria ir.
Tem dias que eu só preciso me internalizar, ou seja, ir para dentro de mim mesma. Geralmente quando sinto essa necessidade, escuto o “Hopes and Fears” do Keane, que é um álbum que se tornou meu grande amigo em 2006. Hoje, mantemos uma amizade menos sofrida porém forte e fiel. 
Algumas músicas têm a capacidade de dialogar comigo, de me fazer voltar no passado e me mostrar como eu me sentia naquela época, despertando o que eu pensava quando ouvia. É bem bacana essa coisa de conseguir voltar no tempo e ver como era a minha vida, no que eu focava, quais eram meus princípios.
Isso me faz tão feliz, essa viagem que a música me proporciona pois, afinal, quando me vejo lá no passado tristonha ou mal amada por mim mesma, tenho tanto amor por mim. Então aperto um fast-forward e venho aqui para o presente, me olho e fico contente em ver a evolução, não descartando que todo o meu passado fazia parte do processo para chegar aqui hoje e me ver em uma versão melhorada.
Voltando a falar sobre o que me trouxe aqui: o medo.
Eu tenho medo de escutar Legião Urbana. É uma tormenta para mim, um pesadelo.
Eu já tentei enfrentar esse medo com mais pessoas a minha volta pois assim sei que não irei me descontrolar. Fiz isso na casa da minha avó com meu tio algumas vezes e fiz isso uma vez na praia.
No último sábado, eu escolhi um álbum para tocar e me deitei. Eu acabei adormecendo e quando acordei estava tocando o famoso “Mais do Mesmo”.
Eu decidi encarar. Fiquei deitada, só prestando atenção em como eu me sentia.
Todo esse medo que eu tenho das melodias, letras, e da voz do Renato Russo se dá por que me remetem a dias insuportavelmente felizes que eu vivi e ao mesmo tempo aos meus piores dias possíveis.
Eu costumava escutar com o meu primeiro amor. Aliás, aprendi a gostar de Legião Urbana com essa pessoa, exatamente num feriado muito feliz de Sete de setembro, na casa de praia da minha família, quando eu tinha apenas 15 aninhos.
Sábado passado quando escutei “Metal Contra as Nuvens”, eu cantarolei a letra toda e lembrei que a decorei naquele feriado. Essa simples lembrança me fez pensar em várias coisas significantes e reveladoras. Primeiro que eu decorei para impressionar alguém. Com isso eu recordei quem eu era naquele ano e nem sabia, nunca pensei nisso, afinal eu era tão feliz. Eu era uma menina feliz mesmo, mas externamente e não internamente. Eu fazia coisas para impressionar os outros, de uma forma inocente, claro, mas fazia. Eu não tinha segurança de quem eu era e tinha uma necessidade imensa de ser aceita. Que triste menina feliz eu era!
Mais lembranças surgiram e me levaram lá para aquela casa de praia, naquele feriado. Outras me trouxeram para um passado próximo como “Vinte e Nove”, que eu ouvi muito ano passado (2009), enquanto eu sofria várias perdas simultaneamente. “Vinte e Nove” se tornou então um grito de guerra secreto. Um grito que me dizia que aquilo tudo ia passar, que aos poucos vinte nove anjos me saudariam e eu teria vinte e nove amigos outra vez.
Lembrando do ano passado, percebi o quanto nenhuma tristeza é sem fim, de como se consegue reerguer dos cinzas mais escuros mil vezes, mesmo quando acha que vai ser insuportável, inatingível e interminável.
Sei lá que mensagem eu quero passar, talvez só dizer que enfrentar um medo, pode abrir portas mesmo. Esse meu medo, por mais bobo e simples que pareça, não deixa de ser um medo que me abriu portas para me amar mais.
Foi escutando “Como é que se diz eu te amo” que eu aprendi que “eu te amo” se diz para dentro. Aprendi isso ao sentir compaixão por aquela menina de 15 anos que achava que tinha a vida mais perfeita do mundo inteiro. Senti também compaixão pela moça que tinha que trabalhar e estudar, ter tempo para a família, resolver mil coisas e fugia às seis horas da manhã para o Jardim Botânico para caminhar, chorar a saudade do pai e escutar seu grito de guerra secreto.
Dizem por aí que todo medo que enfrentamos nos dá um pouco mais de liberdade, e que é um peso que tiramos dos ombros. Desse meu medo posso dizer que não só me libertou como também me ensinou muito sobre as muitas pessoas que eu já fui, fazendo com que eu transbordasse de amor por mim.
Amei essa menina e essa moça como nunca antes e, só isso – deixando de lado a coisa da liberdade e das descobertas – só isso já é gratificante.


2 comentários:

m.olívia disse...

COMO EU TENHO MEDO DE ESCUTAR COLDPLAY BRUNA!!!!

hahaah
tu entende né?
=*

Paulo Z. disse...

Que lindo Bru!

É tão impressionante o papel que a música tem nas nossas vidas... né? Impossível imaginar uma vida sem!

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