quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Quão perto estou de quem realmente sou?

I guess I couldn't live without the things that made my life what it is” (Too young / Phoenix / Lost in Translation soundtrack).

Dezembro chegou e foi embora, assim como qualquer outro mês. O natal passou e a transição do ano também, e eu só consigo pensar no quanto isso tudo já não faz mais diferença alguma para mim. 
Minha família sempre deu muita importância para as festas de fim de ano. Cresci amando isso e sempre me senti  diferente no final do ano. Mas não senti isso esse ano. Não senti nada de diferente que eu não poderia sentir em qualquer outro mês. Fiquei pensando sobre isso, sobre um possível motivo para não sentir nada demais. 
Hoje, vinte dias após o começo oficial do ano, eu me peguei incomodada por não ter sentido que nada de diferente realmente aconteceu, incomodada por ter me desprendido de heranças familiares - que mais são regras de como devemos nos sentir. Eu me diverti na festa de natal, assim como me diverti em todas as outras festas da minha família durante o ano todo. Tenho que confessar: minha família é divertida, sabem mesmo como fazer qualquer ocasião valer a pena, e isso me tira da lista das pessoas que acham a festa de natal em família um saco. Só que percebi que carrego muitas crenças da minha infância e fico repetindo sentimentos infantis que já não fazem mais sentido algum na minha vida, e quando eu me incomodo por não me sentir diferente quando dezembro chega é somente porque eu consegui me desapegar de mais alguma coisa inútil na minha vida, e a melhor parte é só perceber que isso aconteceu quando já está acontecendo há muito tempo.
A minha hora de fazer um balanço sobre o ano é realmente agora, mas só porque eu tenho muitas coisas novas coincidindo com o começo do ano, meu recomeço mais uma vez. O que eu tenho para dizer sobre 2010 é que foi um ano fantástico, um ano onde eu não precisei esperar o natal chegar para me sentir diferente, para sentir alguma magia louca no ar, porque eu me senti diferente todos os dias do ano. “Bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera. E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é”. Li essa frase e fiquei me perguntando o quão perto estou de quem realmente sou? E acho que nunca antes estive tão perto. Me sinto sincera comigo mesma como nunca antes, me sinto bem próxima de mim mesma, cada dia mais perto. Pela primeira vez na vida, eu me sinto confortável sendo quem eu sou, eu não gostaria de ser nenhuma outra pessoa, eu não trocaria de lugar com ninguém, definitivamente.
Pensei nisso tudo enquanto escutava More than this da trilha sonora de Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003). “…As free as the wind / Hopefully learning / No care in the world / Maybe I'm learning / More than this you know there's nothing”.
O filme mostra exatamente o que aprendi este ano. Mostra o quão belo os relacionamentos podem ser (independente do desfecho), mostra um pico de cumplicidade entre duas pessoas. É o retrato perfeito de um desencontro que se eternizou. Simples assim. Uma história de amor sem a necessidade de romance. É um tal de encontro, logo existo e logo me escapa. Logo acaba. Logo permanece. Escapa e não necessariamente perde-se, do contrário, ao mesmo tempo que nos foge, se prende, nos prende. Ao mesmo tempo em que termina, começa. É mais eterno do que o que aparentemente fica para sempre. É uma coisa muito dúbia e muito interligada, é um ciclo sem ordem, é uma desordem, e é lindo. É a prova de que a vida consiste muito mais em encontros seguidos de desencontros, do que em encontros que duram para sempre, mas ao mesmo tempo, mesmo o que não dura para sempre, tem vida eterna, e sinceramente, não sei mais explicar o que isso significa, mas o filme é uma ótima forma de entender essa dubiedade toda.
Enfim... fiquei associando tudo isso ao filme - esse meu conforto todo comigo mesma. Revirei algumas anotações que fiz enquanto assisti, e fiquei pensando no meu ano que foi todo feito de encontros e desencontros, assim como o filme. Este ano, em especial, foi um ano que dissequei cada um dos meus 'esbarros' e acasos, prestei atenção e destrinchei cada colisão da vida como nunca antes e, principalmente, aprendi sobre a beleza de tudo isso, mesmo quando - parece - triste. E isso me mudou para sempre.
       
        [Charlotte: I just don't know what I'm supposed to be.
                        Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you
]. (Lost in Translation | 2003)

Sinto que quanto mais observo as pessoas que cruzam meu caminho e as situações, mais consigo entender. Procurei ter um olhar mais humano sobre todos e isso ajuda a ter uma melhor compreensão de tudo o que nos acontece, e não perdemos mais tanto tempo ficando chateados com as pessoas ou situações. A frase de Bob, personagem do filme, me faz entender porque, mesmo me sentindo estagnada por vezes ou diante de contratempos da vida, eu não deixo mais que as coisas me deixem triste ou desanimada. “Quanto mais você sabe quem você é e o que você quer, menos você deixa que as coisas te deixem triste”.

       Agora escuto Just like honey, da mesma trilha: “Escute a garota, enquanto ela enfrenta meio mundo, escalando as alturas e tão viva, em sua colmeia que vem pingando mel. Colmeia. É bom, tão bom, é tão bom. Tão bom”. Passei o ano inteiro escrevendo sobre isso, e não me canso de falar disso, é algo que me enobrece tanto, mas tanto, que não consigo dar fim ao assunto, simplesmente porque é bom, tão bom, é tão bom. Tão bom!





Ressignificando nossas relações

Escrevo-te assim como quem escreve para alguém que nunca amou. Não te amei, mas tentei. E eis que, por fim, surge algum tipo de amor. Não to...