domingo, 27 de fevereiro de 2011

Urbana-politana

Esta semana completei um mês morando em São José dos Pinhais, região metropolitana da minha – agora meio que distante – Curitiba. E, apesar de estar aqui por falta de opção (até tinha mais uma: morrer de calor em Foz do Iguaçu), vim registrar minha experiência, pois tem sido infinitamente melhor do que eu poderia presumir.

Imaginei que seria ruim. Não exatamente por ter algo contra São José, somente por ter tudo a favor de Curitiba, especialmente pelo centro da cidade que é o meu lugar favorito. Mesmo antes de morar lá, sempre gostei de tudo aquilo, desde que me entendo por gente. Lembro-me de andar na Rua XV de Novembro com a minha mãe, ir à Confeitaria da Família, ou comer x-pernil com meu pai na frente do bondinho. Minha cabeça de menina tinha curiosidade pelo tipo de pessoa que residia por ali. Imaginava se elas gostavam tanto de passear na Rua das Flores como eu. Ou se morar ali fazia disso pouca coisa. (Igual pensava dos moradores litorâneos...)

Depois cresci. Cresci e nunca deixei de ir às feiras na Praça Osório, tomar quentão com gemada na feira junina, sentir o cheiro da biblioteca pública sábado pela manhã, e integrar uma roda em volta de um grupo chileno que sempre cantava “Guantanamera” na Boca Maldita. Também tem a feirinha do Largo no domingo cedo. Tropeçar num Hare Krishna e comer bolinho de aipim com carne seca. Lá também é o paradeiro de muitos curitibanos na sexta à noite. Todo mundo caminhando feliz, no largo colorido, envolvidos em uma energia alcoólica.

Morando no centro descobri que nada perde a graça não. Me apaixonei por todos e cada elemento ‘urbanóide’. Mesmo os ruins e os feios! (Admito que tenho um gosto pelo feio, pelo sofrido, acho lírico, fazer o quê?).

O centro da cidade é uma música de ritmo frenético. Carros e outros barulhos ajudam a compô-la. Buzinas zombem para não deixar ninguém esquecer que há vida lá fora.

Mais vivo que isso são as praças e seus personagens. Os que dormem nos bancos, os vendedores ambulantes com seus slogans gastos. As ciganas da Ruy Barbosa, os punks da Tiradentes, os mendigos do Guadalupe. Para mim, são eles que compõem o traço poético da cidade.

Já, em São José, o que não me deixa esquecer que há vida lá fora são as cenas mais serenas, em câmera lenta...
No começo, para o dia-a-dia, tudo parece mais difícil. Ficar sem um centavo na carteira achando que cartão de débito resolve é um mero engano. Por outro lado, descobri que a quitanda aqui da esquina vende as verduras da horta que fica logo ali, na outra esquina.

Mas, a minha parte favorita é a população canina. Aqui moram os vira-latas mais melancólicos e pidonhos que já vi! Carentes e sedentos por amigos, bem como o povo daqui. Todo mundo é amigo de todo mundo e as pessoas têm um tratamento bem informal. Por exemplo, quando quero ir à farmácia, não vou à Nissei 24 horas, vou ali no Toninho. E também não faço compras no Mercadorama e sim no seu Genípulo, ali na esquina.

Quase esqueci o quanto pode ser sutil viver mais assim, sem barulhos indistintos. A vida aqui é mais lenta, os dias são mais longos. Um lugar para ter a sensação de que a vida é isso aí mesmo: sair pra buscar pão duas vezes ao dia, conversar com os vira-latas numa esquina...

São José tem um cheirinho de liberdade e o horizonte parece tão mais próximo que dá uma sensação de que o dever está cumprido, mesmo quando não está.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entrar na roda e amar - “a sede infinita"

“O mundo muda, o amor permanece”. É isso que diz Charles Aznavour, em uma das suas tantas canções de amor. Ele tem razão. Apesar de, nossa forma de demonstrar e viver um amor ter se modificado tanto - paralelamente com todas as inovações e transformações das sociedades, o amor permanece! E, acho que mais que isso, a nossa vontade de amar e ser amado se mantém intacta, talvez até maior.
O assunto é o amor, sempre é! Para onde olho há gente falando sobre isso. Uns falam sobre o amor que esperam, outros sobre o amor que chegou, ou nasceu, ou renasceu, ou morreu.  Os mais próximos falam do amor que não floresceu.
O amor está nas minhas canções favoritas, livros, filmes, memórias. Acho mesmo que ele permanece. Porém não acredito que um amor possa ser eterno. Melhor dizendo, eu já não acredito mais no “juntos para sempre”.
Tá todo mundo no mesmo barco, fadados a querer um grande amor. Drummond já dizia:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?

Até aí tudo bem. Que podemos senão entrar na roda também e amar? Tudo bem pedir aos céus um grande amor, normal, ué! Mas que peçamos com consciência do que isso representa. Ou seja, entender que o amor não é um negócio, um acordo, ou um contrato. Entender que não podemos determinar o tempo, e que não temos controle algum sobre tal sentimento. Falar em solidez quando se ama é definitivamente o que nos frustrará em algum momento. A única certeza que podemos ter é a certeza do incerto. Nada mais.
E aí, a gente se pergunta: qual o sentido disso tudo? Qual o sentido dessa coisa instável que chamamos de amor? Acho que o sentido é somente deixar ser, seguir o fluxo, deixar vir e deixar ir. E também saber gozar do amor como um todo, vivê-lo plenamente: na alegria e na tristeza.
...amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão...

Sou uma em um milhão que já tentou entender, milhares de vezes, em inúmeras situações, o que é o amor. Temos tanta necessidade dessas respostas e erramos por pura ignorância. Hoje, sou bem grata à minha vida por, finalmente, ter me feito entender um pouco – mesmo que do pior jeito – em que linha, essa coisa aí funciona – lembrando que o entendimento não muda em nada os acontecimentos, somente a forma como vamos lidar com eles.
Houve um tempo em que eu acreditava em contos de fada. Acreditava que encontraria alguém e seria feliz para sempre, simples assim! Foi com muito custo que aceitei que não é assim que funciona. Fui bem frustrada por muitos anos, por não querer aceitar que “o pra sempre, sempre acaba”. No entanto, acredito que se insistimos em querer eternizar as coisas é porque algo na gente realmente é eterno. Há de ser esse nosso gosto vivo de querer amar e ser amado.
Minha amiga me alertou várias vezes: “essas coisas não têm idade”. É verdade. Nunca somos muito novos para amar e nem muito velhos. Estamos indeterminadamente famintos por amor. Porém, o amor se esgota e acho eu que é essencial ter isso em mente e fazer as pazes com esse fato. O amor não é eterno, mas a nossa vocação para amar é sim!

...na concha vazia do amor à procura medrosa e paciente
de mais e mais amor.
...e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Oldies but goldies


Eu sempre digo que sou uma garota anos 80. Eu nasci nos anos 80, mas sempre tive uma inveja boa daqueles que passaram a adolescência nessa década. Meus tios me contam das festinhas na garagem regadas à refrigerante, gente colorida e muita música, enquanto eu fico me perguntando se nasci meio atrasada. Que nada! Graças à tecnologia eu posso acompanhar a década que eu quiser, ouvir, assistir (aliás, assistir era algo que eles praticamente só tiveram acesso com nosso querido youtube!).
É claro que cada época tem seu brilho e sua própria energia, e isso não há tecnologia que registre. Mas eu sou bem feliz pelas bandas que vi surgir e pude acompanhar. Afinal, a energia que eu sentia ouvindo Green Day, trancada em meu quarto, e sentindo que eles me entendiam, é algo que eu realmente não escolheria deixar de viver...
O papo aqui em casa ontem era música. Aliás, tem sido todos os dias! Vim morar temporariamente com a minha mãe e meu tio. Após duas semanas, consigo contar nos dedos os momentos em que não falamos sobre música. Meu tio mais novo é músico, e o é com tudo o que a palavra significa. Não é só a profissão dele, mas também a vida toda. Basta um computador com acesso ao youtube que ele vem e diz: “Deixa eu te mostrar uma coisa que você vai pirar”. E bingo! Eu sempre “piro” mesmo! A primeira da noite foi lá dos anos 70: Gary Glitter. É o tipo de música que chamam de Glam Rock. Passamos do tio Gary para Bonnie Tyler com “It’s a heartache” e uma bela espiada em vários clipes da Suzie Quatro (que voz! E ainda mandando ver no baixo!).


Fizemos umas sessão Michael Jackson e meu tio mostrou o clipe favorito dele “Don’t stop till you get enough”.  Eu contei que minha música favorita é “Beat It” e ele me contou que quem faz o solo é o guitarrista do Van Halen.  Haja conexão! Claro que matamos a saudade de ouvir “Jump”! Nesse meio tempo mostrei a versão indiana de thriller para o titio (imperdível!), afinal não é só ele que tem cultura musical, né? (brincadeira, juro que vou além disso!).

Chegamos aos anos 80 com os clipes de uma banda chamada Devo, eu nunca tinha ouvido! As cabeças dos integrantes da banda em cima de uma batata foi a coisa mais engraçada da seleção musical da noite. Viciados nos péssimos efeitos visuais provindos dessa época, eu e meu querido tio, vasculhamos o mundo virtual em busca dos piores clipes, e encontramos algumas pérolas que vou compartilhar aqui.
Demos uma avançada para os anos 90 e uma paradinha na era Grunge. Pearl Jam, algumas bandas das quais eu nunca ouvi falar e Nirvana, lógico. E quando vimos estávamos curtindo Foo Fighters e achando Dave Grohl o cara! (Ah, ele é mesmo!). Quando paramos de disputar o teclado, percebemos que estava na hora de parar, eram três horas da manhã em plena segunda-feira. Eu fui dormir com a alma bem nutrida e meu tio com a melhor das nostalgias.

 Me ajudem a votar no pior, please!

Modern Talking – Geronimo’s CadillacPior parte: passarela de rosas.

Kate Bush - Wuthering Heights / Pior parte: saber que foi o David Gilmour que descobriu esse talento.

Bangles - Walk Like an Egyptian /  Pior parte: ver a princesa Diana “andando como um egípcio”.

Milli Vanilli - Girl you know it's true /  Pior parte: quando eles pulam e se chocam no ar.

Toto - Rosanna /  Pior parte: a suposta Rosanna dançando.

Devo - Time Out For Fun /   Pior parte: as cabeças nas batatas.

 

 

 


Ressignificando nossas relações

Escrevo-te assim como quem escreve para alguém que nunca amou. Não te amei, mas tentei. E eis que, por fim, surge algum tipo de amor. Não to...