quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Felicidade: nossa única necessidade!

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O que buscamos nessa vida é ser feliz. Mas qual é, afinal, o segredo da felicidade? Será que ela está ao alcance de todos independentemente da renda? Será que o dinheiro traz ou não felicidade? Quanto custa ser feliz?

Esta última pergunta é o título da matéria de capa da edição de setembro da revista Galileu. Acima deste título vem uma informação em letra menor, e talvez a mais importante: “Não é auto-ajuda, é ciência!”. Que legal isso, de se falar sobre felicidade cientificamente!

Lendo a matéria, fiquei pensando que tem se falado tanto nisso ultimamente, que até arriscaria dizer que estamos falando à sério em ser feliz como nunca antes na história.

No último domingo, num almoço em família, falávamos sobre os probleminhas da vida, quando meu avô, aos seus 74 anos, contou que sempre foi muito pobre e, por isso, não tinham tempo para pensar nessas coisas da vida. Disse que a única preocupação da família era como fariam para comprar o alimento necessário para sobreviver a cada dia.

Fiquei mexida ao imaginar que há muitos e muitos anos a preocupação geral do mundo era para com as necessidades mais primitivas e só. À medida que nos civilizamos e evoluímos surgiram outras necessidades. Mas tanto no tempo do meu avô, como ainda neste tempo, existem muitas famílias que nem têm o direito de se preocupar em ser feliz. Gente que ainda luta pela sobrevivência! Assim pensando, agradeci. Agradeci muito por ser afortunada, por ter o que comer, por poder me voltar à mim mesma, me questionar, ter somente necessidade de crescer como ser humano, e acima de tudo ter direito de ser feliz. Que benção, não?

Na última semana, participei de um encontro que discutiu as relações da felicidade e da filosofia nas nossas emoções. No primeiro dia o tema era ‘Felicidade e Ética’, com Daniel Lins. O Daniel levantou a questão de que a felicidade deveria ser um direito constitucional de todos, e isso até já virou Proposta de Emenda à Constituição este ano, aqui no Brasil! Ele entende que quando um país não dá ao seu povo, por exemplo, o direito à educação e alimentação, pode-se entender que o direito à felicidade fica restrito, e não é para todos.

            A ironia disto tudo é que mesmo quem tem condições para buscar ser feliz, encontra grande dificuldade em fazê-lo. Os livros de auto-ajuda ensinam métodos para conseguir dinheiro, emprego, e o grande amor da sua vida. Eu acho bem bacana a coisa toda do pensamento positivo, mas reduzir a felicidade a ter o que se quer, não há de ser o caminho correto. A felicidade é bem mais simples que isso tudo aí. Essa seção auto-ajuda pode ensinar, sem querer, o oposto de uma vida feliz.

Vou citar um exemplo. Ganhei o famoso livro “O Segredo” de aniversário e, num dia de julho, com o frio que convida-nos a ficar em casa, senti vontade de compartilhar as cobertas com alguém: carências! Olhei para o livro e comecei a pensar no que ele me diria para que eu atraísse alguém pra debaixo dos meus cobertores coloridos.

O livro explica que nossas ações cotidianas dizem muito sobre o que atraímos, e que não basta pensar positivo, mas para além disso, devemos agir como se o que queremos já existisse em nossa vida, como se já fosse verdade.

Vou dar o exemplo que o livro usou. Uma moça queria um namorado. Começou então, a agir como se ele já existisse em sua vida! Nas duas vagas de garagem que pertencem a ela, tinha o costume de estacionar o carro ocupando ambas. Mudou isso, começou a deixar uma vaga livre. Abriu espaço em um lado do seu guarda-roupas. Dormia só de um lado da cama.

O livro me fez um bem danado. Primeiro porque ri muito imaginando a moça fingindo que tinha já um namorado, e segundo porque estava me sentindo patética de ir olhar o capítulo “O Segrego Para o Amor”, e aí me senti bem normal com a história da moça. Não deixei de me sentir patética, só lembrei que todos nós somos patéticos e tudo bem...

Esse e outros livros desta seção aí tentam ensinar como atrair coisas e pessoas. Acredito eu que assim se perde o espaço para as surpresas, para as coisas pequenas e simples. Perdemos assim, o espaço para, ao invés de atrair, sermos atraídos. Sem contar que esses passos deixam qualquer um neurótico igual a essa moça. Acho que ser feliz tem que ser bem mais simples, solto e desprendido e natural do que isso.

            Parece bem clichê, mas ser feliz é simplesmente se apegar nas pequenas coisas da vida, é viver profunda e intensamente um momento, uma conversa ou simplesmente admirar um pôr-do-sol sozinho. Essas coisas simples não custam dinheiro nenhum e ao mesmo tempo são impagáveis.

Claro que aqui, sou apenas eu falando, com base em tudo o que vivo, leio, escuto e entendo. Já estão todos fartos de achismos sobre fórmulas para a felicidade e, por isso, vou falar sobre o que as pesquisas mencionadas na Revista Galileu nos mostram. “Estar focado em uma atividade no presente e gastar tempo com amigos e a família parecem ser uma forma eficiente de ser feliz”, diz um pesquisador.

           Os cientistas deixam claro que “gastos exorbitantes não tornam ninguém mais feliz no longo prazo. Ao contrário, pagar por uma refeição especial, cursos de idiomas ou viagens curtas trariam muito mais retorno para a construção da felicidade duradoura, pois nos ajudam a estabelecer conexões pessoais” e “a relação entre felicidade e pequenos prazeres é três vezes maior do que entre felicidade e riqueza”.

            Os pesquisadores deixam claro que não é um culto contra o dinheiro, apenas querem mostrar que quem acha que ganhar na loteria torna alguém feliz está extremamente enganado.



Em um estudo clássico, realizado na década de 70, pesquisadores das universidades de Massachusetts e de Northwestern, nos Estados Unidos, compararam o nível de felicidade de um grupo que tinha ganhado na loteria com outro, que havia ficado paraplégico. Ainda que, logo depois do ocorrido, as pessoas do primeiro time tenham se sentido muito felizes e as do segundo estivessem no extremo oposto dessa sensação. Após o período de um ano o nível de felicidade dos dois grupos era praticamente o mesmo. As estatísticas apontam que, após esse curto período de tempo, um trauma já não causa tanto impacto sobre a felicidade do indivíduo (Galileu, set/2010)



            Esta pesquisa mostra que não existe situação a qual não consigamos nos acostumar, pois se o sentido da felicidade é viver momentos presentes e aprecia-los, então qualquer pessoa pode fazer isso, independente de qual circunstância lhe rodeia.

            Ainda falando sobre a relação da felicidade com dinheiro concluem que quando sabemos que vamos ter dinheiro suficiente para pagar por qualquer coisa, teremos menos satisfação. “O que é garantido não tem a mesma graça para nosso cérebro quanto o que precisa ser conquistado. Foi descoberto que o pico máximo de prazer em nossa mente ocorre ao planejarmos algo que tem 50% de chance de dar certo, quando temos 100% de certeza, a liberação dos neurotransmissores da felicidade é menor”, diz a neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel.

            Uma análise, mencionada na matéria da revista, diz que de nove categorias de consumo (exemplos: cuidados pessoais, comida, saúde, veículos e residências), a única que se relaciona de uma forma positiva à felicidade é o lazer, em especial aquele que nos proporciona relações interpessoais.

            Ah, o lazer! Chave importante e essencial para sermos feliz. Estou lendo agora “Manual do Hedonista”, que defende muito bem – como esperado – a ideia de prazer e lazer.  “Os negócios realmente desmoronarão se você parar de administrar os mínimos detalhes? A casa vai mesmo implodir se você não cozinhar, limpar e cuidar de tudo?... Não. E para provar isso, basta você morrer. O que vai acontecer depois? As coisas irão se resolver sozinhas, é isso que vai acontecer”.

   É... viver vai bem além da nossa rotina, do nosso trabalho e afazeres. A verdadeira - e talvez única - responsabilidade que temos na vida é para conosco. Mesmo quando nos sentimos responsáveis pelos outros, a melhor forma de fazer bem ao próximo, é cuidar da nossa própria felicidade. “Aceitar o prazer não é egoísmo, é o máximo do altruísmo”. Isso! Espalhar felicidade, contagiar os outros é o que de mais belo podemos fazer para prestar socorro.

Quanto a nós mesmos - agora que estão provando que independente da renda, trabalho, afazeres e responsabilidades, qualquer um está fadado à felicidade - é bom sempre lembrar que evoluímos e que vivemos em um tempo onde a única necessidade é ser feliz. Então vamos agradecer e usufruir! :)

4 comentários:

gil disse...

O hedonismo é meio besteirizado hoje em dia, as pessoas pensam cada coisa...gostei da reflexão Bruna, é um verdadeiro artigo. Claro que, existe também o lado sombrio, as angústias com seus milhares de pormenores. Mas tudo isso faz o maior sentido, sim. Bom te ler. Beijo.

Bruna Magno disse...

sim sim, existe o lado sombrio, mas eu vejo o lado sombrio como uma parte da vida que também é bela, uma parte que erramos ao lutar contra.
A vida tem de ser vivida plenamente, tudo deve ser aproveitado, o bom o ruim, o sol a chuva, o riso e a lágrima, né?

Olha que bacana esses trechos, também retirados do Manual do Hedonista:

"A natureza humana é ao mesmo tempo complicada e multidimensional, e viver negando o lado sombrio não só é inútil e desnecessariamente restrititvo como também pode levar à ruína pessoal. Como um processo de crescimento em evolução, a vida deve ser vivida plenamente para que tenha algum sentido".

"Há muita beleza nos recessos mal iluminados da alma e, na melhor das hipóteses, a escuridão pode ser romântica, inspiradora, excitante, fascinante e surpreendente. Negar esse fascínio é rejeitar metade da experiência da vida. Gozar corajosamente o pleno espectro da natureza humana não só é uma atitude sábia como é lógica"

um beijo Gil*

rosanamagno disse...

Não tenho palavras para descrever como é lindo tudo o que você escreve. Minha filha ...meu orgulho,beijokas.

rosanamagno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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