sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entrar na roda e amar - “a sede infinita"

“O mundo muda, o amor permanece”. É isso que diz Charles Aznavour, em uma das suas tantas canções de amor. Ele tem razão. Apesar de, nossa forma de demonstrar e viver um amor ter se modificado tanto - paralelamente com todas as inovações e transformações das sociedades, o amor permanece! E, acho que mais que isso, a nossa vontade de amar e ser amado se mantém intacta, talvez até maior.
O assunto é o amor, sempre é! Para onde olho há gente falando sobre isso. Uns falam sobre o amor que esperam, outros sobre o amor que chegou, ou nasceu, ou renasceu, ou morreu.  Os mais próximos falam do amor que não floresceu.
O amor está nas minhas canções favoritas, livros, filmes, memórias. Acho mesmo que ele permanece. Porém não acredito que um amor possa ser eterno. Melhor dizendo, eu já não acredito mais no “juntos para sempre”.
Tá todo mundo no mesmo barco, fadados a querer um grande amor. Drummond já dizia:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?

Até aí tudo bem. Que podemos senão entrar na roda também e amar? Tudo bem pedir aos céus um grande amor, normal, ué! Mas que peçamos com consciência do que isso representa. Ou seja, entender que o amor não é um negócio, um acordo, ou um contrato. Entender que não podemos determinar o tempo, e que não temos controle algum sobre tal sentimento. Falar em solidez quando se ama é definitivamente o que nos frustrará em algum momento. A única certeza que podemos ter é a certeza do incerto. Nada mais.
E aí, a gente se pergunta: qual o sentido disso tudo? Qual o sentido dessa coisa instável que chamamos de amor? Acho que o sentido é somente deixar ser, seguir o fluxo, deixar vir e deixar ir. E também saber gozar do amor como um todo, vivê-lo plenamente: na alegria e na tristeza.
...amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão...

Sou uma em um milhão que já tentou entender, milhares de vezes, em inúmeras situações, o que é o amor. Temos tanta necessidade dessas respostas e erramos por pura ignorância. Hoje, sou bem grata à minha vida por, finalmente, ter me feito entender um pouco – mesmo que do pior jeito – em que linha, essa coisa aí funciona – lembrando que o entendimento não muda em nada os acontecimentos, somente a forma como vamos lidar com eles.
Houve um tempo em que eu acreditava em contos de fada. Acreditava que encontraria alguém e seria feliz para sempre, simples assim! Foi com muito custo que aceitei que não é assim que funciona. Fui bem frustrada por muitos anos, por não querer aceitar que “o pra sempre, sempre acaba”. No entanto, acredito que se insistimos em querer eternizar as coisas é porque algo na gente realmente é eterno. Há de ser esse nosso gosto vivo de querer amar e ser amado.
Minha amiga me alertou várias vezes: “essas coisas não têm idade”. É verdade. Nunca somos muito novos para amar e nem muito velhos. Estamos indeterminadamente famintos por amor. Porém, o amor se esgota e acho eu que é essencial ter isso em mente e fazer as pazes com esse fato. O amor não é eterno, mas a nossa vocação para amar é sim!

...na concha vazia do amor à procura medrosa e paciente
de mais e mais amor.
...e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

4 comentários:

Rafa disse...

Na época que eu atualizava meu blog, escrevi um post com a minha teoria sobre o assunto. Vou te mandar por email!

"Os mais próximos de mim falam do amor que não floresceu." ui hahah

Paulo disse...

Bru!!! Eu vou te amar para sempre!! <3

Anônimo disse...

Bru, eu ando aprendendo meia-ou-três-quartos de coisas, e cortázar tava certo: a gente fica chapinhando num círculo cujo centro está em todos os lugares e a circunferência em nenhum - forçamos nosso foco numa idéia, quasisempremente ilusória, e desfocamos o resto ---> o resto é o mundo, o resto é tudo, chega uma hora em que é necessária a humildade de mastigar a idéia e jogar no cêsto junto com os papéis de chiclete. As coisas estão aí, tudo pode convergir. E por isso a minha imagem no caleidoscópio não é um fantasma, não é um teorema. Só quero algo que faça sentido; que me encante, apenas, neste pedaço de vida. A partir disso se constrói, se delira, se planta um canteiro de lembranças. É isso. Espero que seja. Beijo prá ti.

m.olívia disse...

BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

lindo, Bru.

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