“O
mundo muda, o amor permanece”. É isso que diz Charles Aznavour, em uma das suas
tantas canções de amor. Ele tem razão. Apesar de, nossa forma de demonstrar e
viver um amor ter se modificado tanto - paralelamente com todas as inovações e transformações
das sociedades, o amor permanece! E, acho que mais que isso, a nossa vontade de
amar e ser amado se mantém intacta, talvez até maior.
O
assunto é o amor, sempre é! Para onde olho há gente falando sobre isso. Uns
falam sobre o amor que esperam, outros sobre o amor que chegou, ou nasceu, ou renasceu,
ou morreu. Os mais próximos falam do amor que não floresceu.
O
amor está nas minhas canções favoritas, livros, filmes, memórias. Acho mesmo
que ele permanece. Porém não acredito que um amor possa ser eterno. Melhor
dizendo, eu já não acredito mais no “juntos para sempre”.
Tá
todo mundo no mesmo barco, fadados a querer um grande amor. Drummond já dizia:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
Até
aí tudo bem. Que podemos senão entrar na roda também e amar? Tudo bem pedir aos
céus um grande amor, normal, ué! Mas que peçamos com consciência do que isso
representa. Ou seja, entender que o amor não é um negócio, um acordo, ou um
contrato. Entender que não podemos determinar o tempo, e que não temos controle
algum sobre tal sentimento. Falar em solidez quando se ama é definitivamente o
que nos frustrará em algum momento. A única certeza que podemos ter é a certeza
do incerto. Nada mais.
E
aí, a gente se pergunta: qual o sentido disso tudo? Qual o sentido dessa coisa
instável que chamamos de amor? Acho que o sentido é somente deixar ser, seguir
o fluxo, deixar vir e deixar ir. E também saber gozar do amor como um todo,
vivê-lo plenamente: na alegria e na tristeza.
...amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão...
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão...
Sou
uma em um milhão que já tentou entender, milhares de vezes, em inúmeras
situações, o que é o amor. Temos tanta necessidade dessas respostas e erramos
por pura ignorância. Hoje, sou bem grata à minha vida por, finalmente, ter me
feito entender um pouco – mesmo que do pior jeito – em que linha, essa coisa aí
funciona – lembrando que o entendimento não muda em nada os acontecimentos,
somente a forma como vamos lidar com eles.
Houve
um tempo em que eu acreditava em contos de fada. Acreditava que encontraria
alguém e seria feliz para sempre, simples assim! Foi com muito custo que
aceitei que não é assim que funciona. Fui bem frustrada por muitos anos, por
não querer aceitar que “o pra sempre, sempre acaba”. No entanto, acredito que se
insistimos em querer eternizar as coisas é porque algo na gente realmente é
eterno. Há de ser esse nosso gosto vivo de querer amar e ser amado.
Minha
amiga me alertou várias vezes: “essas coisas não têm idade”. É verdade. Nunca
somos muito novos para amar e nem muito velhos. Estamos indeterminadamente
famintos por amor. Porém, o amor se esgota e acho eu que é essencial ter isso
em mente e fazer as pazes com esse fato. O amor não é eterno, mas a nossa
vocação para amar é sim!
de mais e mais amor.
...e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
4 comentários:
Na época que eu atualizava meu blog, escrevi um post com a minha teoria sobre o assunto. Vou te mandar por email!
"Os mais próximos de mim falam do amor que não floresceu." ui hahah
Bru!!! Eu vou te amar para sempre!! <3
Bru, eu ando aprendendo meia-ou-três-quartos de coisas, e cortázar tava certo: a gente fica chapinhando num círculo cujo centro está em todos os lugares e a circunferência em nenhum - forçamos nosso foco numa idéia, quasisempremente ilusória, e desfocamos o resto ---> o resto é o mundo, o resto é tudo, chega uma hora em que é necessária a humildade de mastigar a idéia e jogar no cêsto junto com os papéis de chiclete. As coisas estão aí, tudo pode convergir. E por isso a minha imagem no caleidoscópio não é um fantasma, não é um teorema. Só quero algo que faça sentido; que me encante, apenas, neste pedaço de vida. A partir disso se constrói, se delira, se planta um canteiro de lembranças. É isso. Espero que seja. Beijo prá ti.
BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mario Quintana
lindo, Bru.
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