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Para minha amiga Cynthia, com carinho.
Uma amiga me escreveu hoje dizendo que se sente só. Que está rodeada de gente e ainda assim se sente só. Vi em algum lugar do meio virtual uma coisa bem bonita que descreve a sensação: “O vazio cola o umbigo na costela”.
O que será que devemos fazer para nos livrar disso? Será que é possível se livrar? Ou temos apenas que aprender a conviver com esse vazio que faz do umbigo e da costela dois vizinhos?
Todos nós – querendo ou não - andamos lado a lado com a tal da solidão. A cronista e jornalista Martha Medeiros, já escreveu sobre a solidão, esse sentimento que rejeitamos. A Martha falou com indignação, disse que todos querem se livrar da solidão “como se fosse um tumor maligno”, quando na verdade é um sentimento tão legítimo quanto à alegria. Eu concordo plenamente com ela.
Faz um tempo já que decidi assumir meu relacionamento com a minha solidão. Já brigamos tanto - ou melhor, eu que brigava com ela - tentei mandar ela embora, tentei questionar sua existência, e por muito tempo tive um medo gigante de saber que a qualquer hora ela chegaria para me aterrorizar.
Hoje, fizemos as pazes. Tanto que me sinto a vontade para vir aqui e falar sobre a solidão, a minha e a dos outros.
É importante que não confundamos sentir solidão com sentir-se solitário. O solitário é carente, carece de gente. A solidão é algo mais do “eu comigo mesmo”, é uma inquietação da alma, é uma coisa que se sente, e não uma coisa que se quer. Quem sente solidão só carece de si mesmo!
Pensando bem, acho que ela é uma coisa meio física... Isso mesmo: um sintoma físico, igual quando ficamos doentes. Esses dias fiquei gripada. Precisei então, dar uma desacelerada em várias coisas, pois meu organismo estava todo debilitado. Rendi menos no trabalho, comecei a secar o cabelo antes de sair de casa, pensar em todas as formas de cuidar de mim, com remédios e chás e horas a mais de sono. Fiz tudo isso por um simples motivo: meu corpo me pedia, implorava!
É isso que a solidão faz, bate no peito como um aviso de que é hora de se recolher, de se voltar para dentro, de repensar algo, de se cuidar com carinho.
Temos que aprender a prestar atenção nos nossos sentimentos, só assim vamos saber detectar que sentimento chega. Quando é a vez da solidão ficamos ignorando, saindo para lá e para cá, feito uns desesperados, destrambelhados, procurando algo ou alguém que preencha o vazio no peito. Tem quem casa pensando em se livrar da solidão, sem saber que não tem casamento, relacionamento, ou qualquer coisa que nos apartará dela. O escritor inglês Cyril Connoly disse satirizando: “O pavor da solidão é maior que o medo da escravidão: assim, nos casamos”. Seria cômico, se não fosse trágico!
Eu diria – com base em minhas experiências - que tudo o que devemos fazer é parar um tantinho de tempo e cumprir o que Ela nos pede: i-so-la-men-to.
Cuidemos então de nossa solidão, ela é tão autêntica quanto a alegria e, portanto, merece toda nossa atenção, todo nosso carinho e respeito. Se pensarmos bem, o único sentimento que dá chance à nossa individualidade é este. Quem mora com os pais, marido, ou filhos, vive reclamando que não pode ter um tempo sozinho. Ta aí: a solidão é a chance de ficar sozinho mesmo quando todo mundo está do seu lado, ninguém importa, só você.
Quero dizer a minha amiga que isso pode ser bom! Podem me achar louca, mas agora enquanto escrevo aqui, me chegou a ideia de que a solidão é o sentimento que nos humaniza, porque olhando lá no fundo da gente, conseguimos olhar lá no fundo do outro. Mesmo nos sentindo tão fora do mundo, nos conectamos à ele, pois a solidão pertence a todos e por isso nos iguala!
Lembrei de um conto da Clarice, sobre uma moça rica que conhece um mendigo. Conversando com ele, a moça percebe que é tão pobre quanto ele. Não lembro agora o que a fez se sentir igual a ele, mas acho que se tem um sentimento que liga o rico de dinheiro ao pobre de dinheiro é a solidão.
Eu nunca tinha parado para pensar o quanto gosto de sentir solidão. Hoje, quando ela bate na porta, até fico feliz. E tem vezes que eu a chamo.
Fico feliz por saber que é o meu estado de espírito mais fundo, onde aquele buraco no peito me deixa sensível para os cheiros, temperos e destemperos. Você se sabe ali, mas não consegue se voltar para nada que não venha de dentro de você. Alguém fala comigo, quando estou assim, e eu até respondo, mas eu não sei qual foi a pergunta nem qual foi a resposta, o meu corpo liga um piloto automático para lidar com as burocracias básicas do cotidiano e eu possa curtir meu estado de internamento. Que lindo, não?
Não sei como demorei tanto para começar a acolher minha solidão, pois ela faz me sentir maior que o universo, é isso: sinto como se eu olhasse o mundo de fora (ou de cima?), como se apesar de estar ali fazendo parte e vivendo, estivesse, na verdade, com o mundo nas mãos, rodando, rodando, e sentindo.
Meus momentos de insights, plenitudes, assombros, questionamentos e o que mais surgir! :)
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Um comentário:
when you feel most alone, you will not be alone..
just shine a light on me!!!
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