Esta semana completei um mês
morando em São José dos Pinhais, região metropolitana da minha – agora meio que
distante – Curitiba. E, apesar de estar aqui por falta de opção (até tinha mais
uma: morrer de calor em Foz do Iguaçu), vim registrar minha experiência, pois
tem sido infinitamente melhor do que eu poderia presumir.
Imaginei que seria ruim. Não
exatamente por ter algo contra São José, somente por ter tudo a favor de
Curitiba, especialmente pelo centro da cidade que é o meu lugar favorito. Mesmo
antes de morar lá, sempre gostei de tudo aquilo, desde que me entendo por
gente. Lembro-me de andar na Rua XV de Novembro com a minha mãe, ir à
Confeitaria da Família, ou comer x-pernil com meu pai na frente do bondinho.
Minha cabeça de menina tinha curiosidade pelo tipo de pessoa que residia por
ali. Imaginava se elas gostavam tanto de passear na Rua das Flores como eu. Ou
se morar ali fazia disso pouca coisa. (Igual pensava dos moradores litorâneos...)
Depois cresci. Cresci e nunca
deixei de ir às feiras na Praça Osório, tomar quentão com gemada na feira
junina, sentir o cheiro da biblioteca pública sábado pela manhã, e integrar uma
roda em volta de um grupo chileno que sempre cantava “Guantanamera” na Boca
Maldita. Também tem a feirinha do Largo no domingo cedo. Tropeçar num Hare
Krishna e comer bolinho de aipim com carne seca. Lá também é o paradeiro de
muitos curitibanos na sexta à noite. Todo mundo caminhando feliz, no largo
colorido, envolvidos em uma energia alcoólica.
Morando no centro descobri que
nada perde a graça não. Me apaixonei por todos e cada elemento ‘urbanóide’.
Mesmo os ruins e os feios! (Admito que tenho um gosto pelo feio, pelo sofrido,
acho lírico, fazer o quê?).
O centro da cidade é uma música
de ritmo frenético. Carros e outros barulhos ajudam a compô-la. Buzinas zombem
para não deixar ninguém esquecer que há vida lá fora.
Mais vivo que isso são as praças
e seus personagens. Os que dormem nos bancos, os vendedores ambulantes com seus
slogans gastos. As ciganas da Ruy Barbosa, os punks da Tiradentes, os mendigos
do Guadalupe. Para mim, são eles que compõem o traço poético da cidade.
Já, em São José, o que não me
deixa esquecer que há vida lá fora são as cenas mais serenas, em câmera
lenta...
No começo, para o dia-a-dia, tudo
parece mais difícil. Ficar sem um centavo na carteira achando que cartão de
débito resolve é um mero engano. Por outro lado, descobri que a quitanda aqui
da esquina vende as verduras da horta que fica logo ali, na outra esquina.
Mas, a minha parte favorita é a
população canina. Aqui moram os vira-latas mais melancólicos e pidonhos que já
vi! Carentes e sedentos por amigos, bem como o povo daqui. Todo mundo é amigo
de todo mundo e as pessoas têm um tratamento bem informal. Por exemplo, quando
quero ir à farmácia, não vou à Nissei 24 horas, vou ali no Toninho. E também
não faço compras no Mercadorama e sim no seu Genípulo, ali na esquina.
Quase esqueci o quanto pode ser
sutil viver mais assim, sem barulhos indistintos. A vida aqui é mais lenta, os
dias são mais longos. Um lugar para ter a sensação de que a vida é isso aí
mesmo: sair pra buscar pão duas vezes ao dia, conversar com os vira-latas numa
esquina...
São José tem um cheirinho de
liberdade e o horizonte parece tão mais próximo que dá uma sensação de que o
dever está cumprido, mesmo quando não está.